Arte e Natureza no espaço urbano

Arte e Natureza no espaço urbano

terça-feira, 29 de abril de 2014

Uma nova sugestão de lazer (e tradição): a Rota dos Cafés com História de Portugal

Foi ontem (28 de abril de 2014) formalmente lançada uma nova "marca" do turismo e da tradição nacional: a Rota dos Cafés com História de Portugal.
Tal iniciativa pretende dar a conhecer e a valorizar um conjunto de estabelecimentos comerciais, do ramo da restauração e de bebidas, que se afirmaram aos longo dos anos - em rigor, de décadas - como espaços de convívio e de tertúlia singulares.
Esta distinção destaca, assim, o seu papel relevante no âmbito da vida social, económica e - não raras vezes - política dos centros urbanos onde se localizam e fidelizaram frequentadores, por várias gerações.
Nesta fase inicial, foram distinguidos os seguintes cafés (e estabelecimentos similares):
a Pastelaria Gomes (Vila Real), o São Gonçalo (Amarante); a Confeitaria Brasileira e o Vianna (Braga); o Milenário e o Teto de Mercúrio (Guimarães); o Aviz, o Âncora d'Ouro (ou "Piolho"), o Magestic e o Guarany (Porto); o Santa Cruz (Coimbra); o Paraíso (Tomar); a Versailles, o Martinho da Arcada, a Brasileira do Chiado, o Nicola, o Bérnard, a Pastéis de Belém e a Confeitaria Nacional (Lisboa); o Alentejano (Portalegre); o Cadeia Quinhentista (Estremoz); o Arcada (Évora) e o Calcinha (Loulé).
Pela minha parte, pese embora não me assumindo como alguém "absolutamente dependente de cafeína" - sabendo-se que os há por aí, todavia... - não deixarei de visitar estes cafés, quando me encontrar na sua vizinhança. Sugiro que façam o mesmo, desfrutando de momentos potencialmente agradáveis e apoiando a economia local.
Ainda no âmbito desta temática, considero oportuno referir que, desde há alguns anos, aprecio o café - a bebida, claro está - sem açucar. Tal como este deve ser consumido, aliás, conforme afirmam os entendidos na matéria.
Cartaz "oficial" do lançamento desta iniciativa, em evento realizado no Café Santa Cruz (Coimbra).

segunda-feira, 21 de abril de 2014

A Páscoa reinventada, na modernidade das Visitas Pascais

...Calma! Sei que a Páscoa, na sua essência, ainda é o que sempre foi e deve continuar a ser: um período de reflexão, de reconciliação e de alegria. Os católicos sentem-no de forma especial, como sabemos. As igrejas enchem-se de fiéis eventualmente mais arredados da eucaristia; os sacerdotes são mais solicitados para celebrarem o sacramento da Confissão; os crentes encontram uma motivação especial para se reconciliarem com todos aqueles com os quais se encontram desavindos...
A Visita Pascal - ou, simplesmente, o Compasso - constitui a expressão visível da alegria sentida cada ano, por esta altura, por todos os católicos, celebrando, em comunhão e em ambiente festivo, a Ressurreição de Jesus Cristo.
Tradicionalmente, a Visita Pascal percorria as diversas ruas das paróquias, entrando em cada casa cuja entrada exibisse um tapete, mais ou menos elaborado, composto por diferentes elementos vegetais: ramos e folhas verdes, flores, etc. Este visita, sempre aguardada, é realizada no domingo de Páscoa ou (sobretudo em meios rurais) na segunda-feira seguinte. Por vezes, na noite do sábado de Aleluia, o ribombar do fogo de artifício antecipa a festa que se viverá no dia seguinte.
Os últimos anos têm trazido alguma inovação à festa da Páscoa no nosso país e, em concreto, às Visitas Pascais. Padres, religiosos/as, acólitos e leigos, têm-se (re)organizado por forma a proporcionarem uma resposta mais efetiva às exigências dos tempos que correm e, muito particularmente, ao aparente comodismo e alheamento manifestado pelas populações de regiões e localidades distintas.
E, se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé.
Com efeito, registam já alguma tradição as Visitas Pascais que percorrem alguns espaços e artérias comerciais, indo de encontros a todos quantos aí trabalham ou, enquanto clientes, aí fazem as suas compras.
Fui agradavelmente surpreendido pela primeira Visita Pascal - antecipadamente anunciada - efetuada no requalificado Mercado Bom Sucesso - Urban Concept, na cidade do Porto, na tarde do domingo de Páscoa. Estiveram bem o Pároco e os paroquianos da paróquia do Santíssimo Sacramento, dando mostras de vitalidade da instituição e de empenho na sua missão.
Início da Visita Pascal ao Mercado Bom Sucesso (20.04.14)
A Visita Pascal, percorrendo os espaços do Mercado Bom Sucesso e "dando a Cruz a beijar". 
Não posso deixar de fazer referência, também, a uma outra forma - mais "irreverente", até - de concretizar a Visita Pascal. Com efeito, este foi o sétimo ano, consecutivo, em que se realizou um "Compasso Motard", em Sintra, pelas ruas das paróquias de Pero Pinheiro e de Montelavar. E foram dezenas as motos - potentes e ruidosas - que animaram os lugares atravessados, na tarde do domingo de Páscoa.
O "Compasso Motard" (foto da edição 2011, retirada de http://jregiao-online.webnode.pt)

sexta-feira, 18 de abril de 2014

18 de abril, Dia Internacional dos Monumentos e Sítios.

Instituído em 1982 pelo Conselho Internacional de Monumentos e Sítios e aprovado no ano seguinte pela UNESCO, o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios pretende contribuir para a consciencialização das populações relativamente à diversidade do património e, muito particularmente, no que concerne à necessidade efetiva de se proceder ao seu estudo, conservação e proteção.
Neste contexto, compete ao ICOMOS (International Council of Monumentes and Sites) - criado em 1965 e sediado em Paris - propor à UNESCO os bens / sítios candidatos à atribuição da classificação de Património Cultural da Humanidade. O ICOMOS constitui, aliás, a única organização não governamental, de âmbito global, vocacionada para a abordagem e intervenção integradas - recorrendo a várias ciências e ramos do conhecimento - no domínio do património arquitetónico e arqueológico.
Não posso deixar de recordar que Portugal (já) possui um interessante (invejável, até) leque de dezasseis sítios classificados como Património Mundial. De norte a sul; no continente e nas ilhas.
Também não os conheço a todos...mas gostaria.
Que tal começarmos já?
Convirá, talvez, irmos munidos de um guia de viagem, dispor de boa companhia e não nos esquecermos da máquina fotográfica.
Depois, restará percorrer as praças e as ruas das mais diversas localidades ou, se preferirmos, os trilhos de algumas das mais surpreendentes áreas rurais e florestais deste país, antigo de séculos e detentor de "tesouros" singulares. À nossa espera.
Cartaz oficial do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios 2014 (IGESPAR)

terça-feira, 15 de abril de 2014

Um texto simples e exemplar, para refletir, numa cooperativa agrícola

Há poucos dias fui surpreendido, na Cooperativa Agrícola da Maia.
Com efeito, logo à entrada das suas instalações - um moderno pavilhão, afeto à armazenagem e venda de produtos e materiais diversos destinados, sobretudo, ao setor agropecuário - uma placa evocativa da sua inauguração leva-nos refletir sobre aquilo que sente (e manifesta publicamente) a comunidade produtora do concelho da Maia: orgulho nas suas raízes e tradições rurais, a par da valorização do esforço coletivo, entendido como essencial à transformação dos sonhos em realidade.
Uma verdadeira lição de vida.
Placa evocativa da inauguração das instalações da Cooperativa Agrícola da Maia, em 20.09.09. 

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Hortas Urbanas I

Parece-me que as hortas urbanas (designadamente, as comunitárias) - essa (re)nova(da) forma de ligação à terra - estão aí para ficar.
...E é ver os novos agricultores citadinos, cheios de dores nas costas, com bolhas nas mãos, algo desajeitados no manuseamento das alfaias e, sobretudo, muito dependentes dos ensinamentos obtidos nos cursos de agricultura biológica, recordados com regularidade através da leitura atenta dos manuais aí fornecidos.
São estes, seguramente, os mais recentes adeptos da ruralidade.
À sua maneira, defendem a tradição agrícola de um país que, por vezes, parece ter uma necessidade efetiva de recuperar vivências ancestrais. E são felizes, como seria de esperar.
Junto-me a eles, literalmente, pela razão e pelo coração.
Não posso deixar de aproveitar este espaço virtual para destacar o nome daquele que é, indiscutivelmente, o percursor de uma luta diária, travada desde há anos contra o primado do betão e do cinzentismo das áreas urbanas: Gonçalo Ribeiro Teles, Arq.º Paisagista e ex-político, atualmente com 91 anos muito lúcidos. 
Uma horta urbana: exemplo de uma feliz integração no meio envolvente.
Pormenor dos talhões atribuídos a cada agricultor biológico "amador", dispondo de um compostor. 

terça-feira, 1 de abril de 2014

O antigo Sanatório das Penhas da Saúde, doravante a Pousada da Serra da Estrela

O dia de hoje deverá ficar na memória de todos quantos conhecem e amam a Serra da Estrela.
Após mais de três décadas de sujeição a um deprimente abandono, um edifício (outrora) imponente, verdadeiramente emblemático e detentor de um passado de prestígio, recupera a sua dignidade, expondo-se "ao mundo" de forma merecidamente orgulhosa.
Refiro-me a um edifício magestoso, projetado na década de 20 do século XX pelo Arq.º Cottinelli Telmo, sob encomenda da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses. O mesmo, localizado no sítio designado por Porta dos Hermínios (a escassos 5 Km das Penhas da Saúde e a idêntica distância da Covilhã) e implantado a uma altitude de 1200 metros, demoraria 8 anos a ser construído (decorrendo a respetiva empreitada entre 1928 e 1936).
Os bons ares da montanha - bem como a tranquilidade e a invulgar beleza paisagística deste local, devo acrescentar - justificaram a opção pela construção deste edifício, funcionando o mesmo, desde então, como Sanatório, para tratamento da tuberculose, dos funcionários da empresa ferroviária nacional.
Estas instalações seriam posteriormente arrendadas à Sociedade Portuguesa de Sanatórios, passando a receber, também, doentes encaminhados pela Assistência Nacional aos Tuberculosos. Permaneceu ao serviço desta causa durante mais de 40 anos, tendo encerrado as suas portas em 1969. Permaneceriam (residentes) no local dois funcionários, zelando pelas instalações desativadas e acautelando a sua efetiva segurança, face aos riscos, sempre presentes, de intrusão e/ou roubo dos diversos materiais que o edifício albergava.
Após 1974, o edifício acolheu mais de 700 retornados das ex-colónias portuguesas, tendo-se mantido habitável e razoavelmente preservado durante vários anos.
Nos anos 80, atingida a idade de aposentação dos 2 funcionários que aí residiam, o antigo Sanatório ficaria definitivamente abandonado. O tempo - e, sobretudo, muitos visitantes mal intencionados - seriam responsáveis por um intenso processo de degradação deste edifício. A par, obviamente, de algumas entidades com ligações a este longo e lamentável processo de titularidade e gestão do imóvel.
No final da década (de 80), a Turistrela toma posse do edifício, não concretizando, todavia, quaisquer obras de recuperação do mesmo, já então ansiosamente aguardadas pela população local, pelas autarquias da região e por outras entidades, particularmente atentas e interessadas na recuperação do Património e na rentabilização do seu potencial, a vários níveis.
Em 1998, o edifício foi vendido à ENATUR - pelo preço símbolico de 1 escudo - perspetivando-se a sua posterior transformação em Pousada, mediante um projeto concebido pelo Arq.º Souto Moura. No entanto, não seria dado seguimento, de imediato, à ambicionada obra.
Perspetiva do edifício do antigo Sanatório "dos Ferroviários", em estado de abandono.
Foto retirada de http://hollywool.blogspot.pt
Pormenor das varandas do primeiro piso, na fachada frontal do edifício.
Foto retirada de http://ruinarte.blogspot.com
Com efeito, só quando a ENATUR foi absorvida pelo Grupo Pestana, em 2003, é que seriam dados passos "mais seguros" no sentido da concretização da tarefa imensa e dispendiosa de transformação do antigo Sanatório em Pousada. O projeto agora implementado foi, como "previsto", do Arq.º Souto Moura, detentor de reputados prémios nacionais e internacionais.
Ao cabo de mais de três anos de obras (iniciadas em 2011), o imponente edifício de 5 pisos e 160 metros de fachada renasce, a partir do estado de  abandono e ruína a que havia sido votado.
Ganham a região e o País, tal como o Património e o turismo.
E ao Grupo Pestana deve ser reconhecida a ousadia da iniciativa, que só pecou por tardia. Espero - tenho que o afirmar - que esta nova unidade hoteleira concretize um caso sucesso empresarial.
Muito gostarei de (re)visitar o interior do edifício. Sei, no entanto, que, desta vez, terei que pagar para desfrutar da sua graça e requinte. É justo.
Já passaram bastantes anos desde que percorri o imóvel "de uma ponta à outra", deixando-me perder na sua vastidão e encantar pela riqueza de alguns detalhes da sua arquitetura e elementos decorativos.
Pousada da Serra da Estrela (fachada frontal, após recuperação do edifício).
Foto retirada de http://www.pousadas.pt 
Pousada da Serra da Estrela (pormenor do lobby, no piso 0)
Foto retirada de http://www.pousadas.pt