Arte e Natureza no espaço urbano

Arte e Natureza no espaço urbano

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A casa nobre da Rua de Sobreiras (Porto)

A Rua de Sobreiras, no Porto, acompanha - ao longo de aproximadamente 700 m - a margem direita do troço final do rio Douro, até um pouco antes da sua foz. Um interessante imóvel aí existente (localizado no limite oeste da atual União de Freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos), concebido e outrora utilizado como habitação unifamiliar, arquitetonicamente relevante, viria a ser "completamente restaurado" (conforme publicitado no sítio da Internet, da sua atual entidade proprietária) há pouco mais de três anos e, dessa forma, adaptado à sua nova valência: um espaço requintado, destinado, fundamentalmente, à prestação de serviços na área da saúde e da estética.
No seu piso térreo funciona, também, um restaurante, "cujo espaço interior respira um ambiente cosy, relaxante e intimista" (cf. sítio da Internet acima referido).
A casa, setecentista, tem (em rigor, tinha...) uma capela anexa. E eu tenho para mim que essa, sim, deveria ser bastante "cosy, relaxante e intimista". Como quase todas, aliás.
Poderá consolar-nos (...) o facto do edifício não ter desaparecido, como tantos outros.
Perspetiva geral da fachada do edifício
Fachada da (antiga) capela anexa à casa

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Sobre o Bairro Municipal de Viseu e outros conjuntos habitacionais afins

Nos últimos dias, a comunicação social tem "feito eco" da decisão tomada pelo atual executivo da Câmara Municipal de Viseu, de anular uma decisão anterior (da responsabilidade do executivo que lhe antecedera, bem entendido), que determinava a demolição de um conjunto habitacional - atualmente designado por Bairro Municipal de Viseu - erguido em 1948 e disponibilizando, então, 104 moradias térreas, geminadas, construídas em banda e dispondo cada uma delas de um pequeno jardim na parte da frente. Sendo relativamente pequenas - é certo - tais moradias não deixam de proporcionar resposta satisfatória às exigências habitacionais de pessoas que vivam sozinhas ou de agregados familiares de dimensão reduzida (tão comuns, aliás, por motivos vários, nos tempos que correm...).
A preservação e a (agora) preconizada reabilitação / requalificação deste conjunto habitacional, parece-me uma decisão sensata e inteligente, socialmente ponderada, assumida e corajosamente contrária à opção (relativamente comum, como sabemos...) pela construção de modernos empreendimentos imobiliários / residenciais e, sobretudo, viabilizadora da manutenção - quanto mais não fosse, para memória futura - de um interessante legado histórico-patrimonial, exemplificativo de um tipo arquitetura portuguesa, característico de meados do século XX.
Tal como se verificou nesta situação - concretizando-se a defesa de valores de natureza patrimonial - algo idêntico se justificaria que acontecesse (noutros municípios do país) relativamente a outros conjuntos habitacionais de tipologia similar, de iniciativa pública (a maioria deles surgidos durante o Estado Novo). Será o caso dos vários Agrupamentos de Moradias Económicas, das Casas para Pescadores, das Casas para Militares ou, até, das Casas para Funcionários Públicos, entre outros exemplos de conjuntos habitacionais erguidos no âmbito da implementação de programas de habitação social outrora levados a efeito pela Administração Central do Estado e/ou pelos Municípios, obedecendo, cada um deles, a critérios específicos de financiamento, ocupação ou, ainda, qualidade construtiva.
Recorde-se, neste contexto, o determinado pelo art.º 14.º da Constituição (Política da República Portuguesa) de 1933: "Em ordem à defesa da família, pertence ao Estado e às autarquias locais: favorecer a constituição de lares independentes e em condições de salubridade(...)". Outros tempos ?...

Perspetiva da fachada de uma das moradias unifamiliares do Bairro Municipal de Viseu.
Imagem retirada de www.facebook.com/MovimentoOBairro

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Respeite-se a proibição...em Vassal, Valpaços


O aviso - documentado na fotografia apresentada - não poderá deixar de nos surpreender. Está patente na entrada do cemitério paroquial de Vassal, anexo à igreja local, no concelho de Valpaços. Para que ninguém prevarique... E mais não digo, face à temática religiosa que se associa a este registo e aos bons ofícios da (zelosa) Junta de Freguesia.

Aos ranchos folclóricos (e instituições "afins"), a devida referência

Tenho tido a ocasião de acompanhar, com alguma regularidade, a diversidade de atividades levadas a efeito por um muito empenhado rancho folclórico, sediado em meio urbano "vai para" 35 anos. Nunca dei por mal gasto - bem longe disso, aliás! - o tempo despendido a assistir às suas irrepreensíveis exibições, recriações históricas de natureza diversa ou, simplesmente, a ocasionais momentos de convívio e celebração.
Chamem-se "ranchos folclóricos", "ranchos típicos", "grupos folclóricos", "grupos etnográficos", "grupos de danças e cantares" (citando, apenas, as suas designações mais comuns), certo é que tais instituições desempenham um papel insubstituível, no âmbito da preservação das tradições locais e/ou regionais e, desta forma, da memória e identidade coletivas, potencialmente ameaçadas pelo ritmo vertiginoso do "progresso"...
Para além da organização de festivais de folclore e de danças e cantares, estes grupos promovem - um pouco por todo o país, ao longo do ano - feiras (rurais) à moda antiga, arraiais e romarias, desfolhadas e malhadas, lagaradas, matanças do porco, cantares de Janeiras e dos Reis e muitas outras iniciativas, sempre abertas à comunidade. Saibamos aproveitá-las.

Uma nota que se impõe: muitos destes grupos desenvolveram um trabalho notável, junto dos "mais antigos", de registo do cancioneiro tradicional, bem como de lendas, provérbios e dizeres locais. Paralelamente, procedem à recolha e preservação, em espaços museológicos próprios - mais ou menos ambiciosos - de artefactos diversos, caídos em desuso e cada vez mais raros. Nalguns casos, "fariam inveja" a alguns museus mais convencionais...

...a tasquinha, "muito presente" em diversos eventos
Espigas de milho na eira e uma vassoura de giesta
O rancho folclórico apresenta-se...
...e anima a Desfolhada

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A lição de Óbidos e um caso peculiar de requalificação urbana

A vila de Óbidos não pára de nos surpreender positivamente. Reinventa-se a cada dia que passa. Como se não lhe bastasse, simplesmente, poder exibir aos olhos de todos, orgulhosamente, a beleza acolhedora do seu casario, harmoniosamente instalado por entre as ruas, vielas e recantos da cidadela muralhada, de raízes medievais.
Em Óbidos vimos nascer e crescer - em sucessivas edições anuais - eventos temáticos tão díspares quanto o Mercado Medieval, o Festival Internacional de Chocolate, Óbidos Vila Natal, as semanas dedicadas à música e às artes ou, ainda, numa expressiva manifestação de índole religiosa, as riquíssimas celebrações da Semana Santa.
Também assim se valoriza e divulga o Património. Também assim se criam novos apreciadores e consumidores de Cultura.
Mais recentemente, Óbidos passou a proporcionar ao visitante (e ao residente local, obviamente...) o projeto da Vila Literária de Óbidos - rico, diversificado e ambicioso, como os restantes.
E esta é uma lição tranquila - própria de quem sabe o que faz - à qual todos assistimos, agradados.
Haverá sempre um motivo para ir a Óbidos. E, em cada visita, haverá lugar para uma (re)descoberta.

Não posso deixar de referir, em "nota de rodapé", o facto de uma antiga igreja (ou, noutra perspetiva, uma igreja antiga...) - a Igreja de São Tiago - abandonada há décadas, ter-se tornado numa livraria, no âmbito deste projeto inovador. Surgiu, assim, a Livraria Santiago, na qual se detetam, generosamente, diversos elementos arquitetónicos religiosos, indissociáveis de um espaço outrora reservado ao culto católico.
Creio que tal não deverá chocar ninguém. Pior seria que o imóvel ruísse, como tantos outros... E, aliás, o mobiliário aí instalado é amovível, podendo (um dia, quem sabe?) ser retirado sem deixar quaisquer marcas...

imagem retirada de www.vilaliteraria.com
imagem retirada de www.vilaliteraria.com

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

O Manancial de Paranhos ou, simplesmente, a Arca d'Água

Devo começar por declarar que o "mundo subterrâneo" fascina-me. Creio que as grutas e cavernas naturais, enquanto estruturas geológicas, tal como as muitas estruturas construídas pelo homem no subsolo - em diferentes épocas e para os mais diversos fins - despertam a imaginação e a curiosidade de qualquer indivíduo, pese embora dependendo, como se compreenderá, da sensibilidade e/ou do(s) conhecimento(s) que cada um possua.
Tive a (enriquecedora) oportunidade de  proceder a algumas incursões naquela que é, seguramente, uma das mais emblemáticas e complexas estruturas construídas no subsolo do Porto - o Manancial de Paranhos (ou, simplesmente, a Arca d'Água) - ao qual se associa uma rede de galerias subterrâneas, outrora utilizada, com eficácia, para levar a água aqui armazenada até às zonas mais baixas (e centrais) da cidade. Tal realidade deve levar-nos a refletir, cada vez mais, sobre a pertinência da preservação da qualidade da(s) água(s) e do seu absoluto não desperdício.
Em alguma bibliografia (relativamente pouca...), tal como na Internet, poderão encontrar-se várias referências à Arca d'Água e aos subterrâneos do Porto. Quanto à realização de visitas ao local, estas estão atualmente "extremamente condicionadas", por motivos de segurança, já que as galerias subterrâneas existentes, ligando - "quase sem interrupções" - a Praça de Nove de Abril à Praça de Gomes Teixeira, carecem, compreensivelmente, de vistorias técnicas regulares e de algumas obras de manutenção.
Creio que a Águas do Porto EM - Empresa de Águas do Município do Porto, porquanto entidade responsável por estas estruturas, poderia fazer "algo mais" neste domínio, reconhecida a competência e o envolvimento profissional dos seus técnicos, bem como, paralelamente, a valorização científico-cultural que daí poderia advir para diversos públicos.
 As imagens que apresento expõem - da forma possível - uma ínfima parte do que existe lá por baixo...

A entrada para o Manancial (um local, para muitos, desconhecido)

A "Arca d´Água", designação pela qual viria a ser conhecido o Manancial de Paranhos 

Perspetiva da galeria de ligação entre
as (duas) cisternas existentes
no subsolo da Praça Nove de Abril

Perspetiva de uma das galerias subterrâneas da Arca d'Água